As hostilidades diretas entre Israel e Irã começaram a se intensificar quando, em 7 de outubro de 2023, o Hamas e outras organizações palestinas, com notável inteligência, perspicácia e agressividade militar, romperam o sistema de defesa conhecido como "Iron Wall" de Israel. Em uma rápida conflagração, invadiram comunidades próximas à Faixa de Gaza, expondo uma grave falha da comunidade de inteligência israelense, que subestimou a capacidade dos palestinos de comprometer essa barreira. Para mais detalhes sobre essa surpresa comportamental do Hamas e os demais grupos, clique aqui.
Inicialmente desorientado, Israel viu suas unidades de vigilância do muro que separa o país da Faixa de Gaza serem rapidamente superadas. Em resposta, Israel mobilizou cerca de 300 mil reservistas para conter o avanço dos grupos palestinos, principalmente o Hamas. Em poucos dias, Israel conseguiu estabilizar a situação e, após algumas semanas, empurrou o Hamas e outros grupos palestinos de volta para a Faixa de Gaza. Desde o primeiro dia, a Força Aérea de Israel (IAF) iniciou intensos bombardeios na região.
A resposta da IAF foi mais ágil, pois representa o principal pilar das Forças de Defesa de Israel (IDF). Os ataques aéreos alvejaram prédios e instalações do Hamas, incluindo residências civis e hospitais que poderiam ou não estar sendo usados pelo grupo e outras organizações palestinas, independentemente das narrativas sobre o uso dessas estruturas.
Israel e analistas começaram a observar que o Hamas e outros grupos empregavam táticas de guerra avançadas, associando-os ao Irã e ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC). Essa percepção abriu caminho para Israel direcionar suas ações contra todo o Eixo da Resistência (EdR). O EdR é uma aliança informal político-militar, anti-Israel e antiocidental, composta por Irã, Síria, o grupo militante libanês xiita Hezbollah e os Houthis do Iêmen. Após os eventos de 7 de outubro de 2023, o Hamas foi incluído nessa coalizão. Milícias baathistas pró-Síria, milícias xiitas das Forças de Mobilização Popular, sancionadas pelo governo iraquiano, e certos grupos palestinos também são, por vezes, considerados parte dessa aliança. O EdR integra a estratégia de política externa do Irã, conhecida como "Anel de Fogo", que visa antagonizar e criar uma dissuasão confiável contra Israel. Para mais detalhes, clique aqui.
Quando Israel intensificou os bombardeios em Gaza, os Houthis e o Hezbollah desencadearam uma série de ações militares contra o país. Os Houthis bloquearam o Mar Vermelho, impedindo a passagem de navios comerciais ocidentais que apoiavam Israel, além de lançarem mísseis de longo alcance contra cidades israelenses, forçando o uso de interceptadores Arrow-III. Já o Hezbollah, outro membro do Eixo da Resistência, lançou drones e foguetes contra cidades protegidas pelo sistema Iron Dome, obrigando Israel a utilizar interceptadores Tamir. Para mais detalhes sobre o sistema de defesa aérea de Israel, clique aqui.
Um ponto que gostaria de mencionar é que o objetivo militar e político da guerra contra o Hamas não era resgatar reféns – isso poderia ser um resultado, mas destruir o Hamas como força de combate organizada. Em março de 2024, longe de estar atolado, Israel havia conseguido reverter a situação em Gaza. Tanto as baixas civis quanto as das IDF estavam diminuindo e o Hamas estava perdendo o controle de Gaza gradativamente. Em agosto de 2024, as IDF estavam prontas para começar a retirar a maior parte de suas forças para a fronteira com o Líbano, com as restantes sendo capazes de controlar Gaza e lidar com quaisquer forças remanescentes do Hamas.
Os pontos são, na minha opinião, um bom resumo de como Israel vê a guerra e incluem críticas ao exército:
- O Hamas está praticamente extinto como força de combate organizada;
- Fadiga entre os reservistas e as formações regulares;
Em comparação com suas operações durante 2023, havia uma sensação de que o Hamas estava entrando em colapso. A organização já montou células de emboscada que realizavam frequentes ataques com mísseis anticarro e emboscadas a partir de uma ampla rede de bunkers e túneis, para uma estratégia de defesa em profundidade de guerrilha. Quase um ano depois, o Hamas parecia incapaz de operar em nível estratégico, mesmo em áreas onde seus batalhões permaneceram estruturalmente intactos ou foram reconstituídos a partir de unidades degradadas. Isso é exemplificado pela incapacidade do Hamas de lançar represálias direcionadas pela morte de líderes militares ou mesmo de tentar ataques tradicionais em feriados judaicos ou nos aniversários de 7 de outubro.
A extensão dos danos à infraestrutura ainda não foi totalmente compreendida pelo público em geral, e líderes israelenses e internacionais precisarão desenvolver planos abrangentes para reconstruir o território. Bairros inteiros foram arrasados durante combates diretos, buscas e destruição de túneis e armadilhas, e o estabelecimento de posições defensáveis. Se os edifícios não foram danificados pela proximidade de explosivos ou atingidos por fogo de supressão, suas paredes externas foram raspadas para revelar a possível presença de combatentes. Entulho de concreto e lixo estão espalhados por amplos campos na Faixa de Gaza e precisarão ser recolhidos e removidos antes que algumas áreas sejam transitáveis, quanto mais habitáveis. As IDF precisarão se preparar para explicar os extensos danos à infraestrutura civil.
O primeiro elo do EdR havia sido comprometido e eliminado como ameaça para Israel.
Problemas militares das IDF nas operações em Gaza
As IDF também tiveram os seus problemas militares e organizacionais nessa guerra. As IDF precisaram restaurar a disciplina. Embora os soldados das IDF não estejam envolvidos em crimes de guerra em massa ou genocídio, há comportamentos inadequados e até criminosos. Outros soldados compartilharam histórias de saques. Vimos o uso generalizado de celulares por unidades das IDF. Isso é ainda mais chocante não apenas porque postagens em mídias sociais podem ser usadas por inimigos para geolocalizar posições e coletar informações, mas também porque o machismo violento e as brincadeiras inapropriadas em vídeos e fotos desacreditam a legitimidade moral das forças e criam um ambiente excessivamente relaxado e familiar que pode levar à morte de pessoas.
Embora jornalistas tenham que responder à censura das IDF, muitos sentiram que os líderes militares pouco fizeram para reprimir soldados que agem como porta-vozes medíocres, mesmo documentando o que parecem ser crimes. Mesmo pequenas questões, como remendos de uniformes ousados e não autorizados, levam a uma quebra de disciplina, o que pode levar a comportamentos ainda mais inapropriados para a ética das IDF.
A liderança militar parece não estar disposta a lidar com o envolvimento excessivo das famílias e a perda de mão de obra que acompanham a disciplina de comportamentos inadequados.
Outro fator é que a confiança na liderança militar foi corroída. Os fracassos de 7 de outubro geraram desconfiança em relação aos altos escalões militares entre muitos soldados e reservistas. Tornou-se um refrão comum entre as fileiras não confiar em ninguém acima da patente de comandante de batalhão. Oficiais de alta patente são vistos criticamente como oficiais "6 de outubro" desatualizados, que se preocupam mais com o avanço de suas carreiras marcando caixas de tarefas em suas pranchetas do que em realmente mudar a realidade no terreno. Tanto reservistas quanto soldados obrigatórios são orientados a resultados e, se sentirem que os oficiais estão mais focados em satisfazer seus superiores do que nas realidades em campo, suas ordens terão menos validade. A cúpula militar, assim como a liderança política, precisa provar aos seus soldados que seus sacrifícios pela vitória não serão em vão.
O primeiro choque direto militar entre Irã e Israel
Os ataques israelenses contra interesses iranianos que mataram comandantes do Hamas e do Hezbollah (inclusive em Teerã) e altos funcionários iranianos em um complexo de embaixada na Síria deixaram o Irã sem escolha a não ser retaliar. Assim como os ataques anteriores de drones contra Israel, que foram ineficazes, o blefe do Irã foi novamente revelado quando eles atacaram com centenas de mísseis balísticos. O melhor que se pode dizer é que vários caíram na área pretendida (fotos de satélite mostram impactos em bases da IAF, mas não houve indicação de danos a aeronaves ou ativos de alto valor). Considerando que uma porcentagem considerável dos mísseis foram interceptados porque foram usados os mísseis mais antigos para saturar a defesa aérea de Israel, o Irã tem um estoque finito e eles são caros, o que não é uma estratégia sustentável.
Embora o ataque israelense também não tenha causado danos visíveis (embora haja alguma evidência de danos a instalações de mísseis antiaéreos S-300), foi alegado que instalações de produção de mísseis e antiaéreos foram atingidas. O que eu acredito que deveria preocupar o Irã é que a IAF conseguiu enviar mais de 100 aeronaves para atacar 20 alvos a 1.600 km de distância, com todas as aeronaves atacantes retornando – embora sem entrar no espaço aéreo iraniano. Partes dos mísseis caíram no Iraque, de onde os mísseis de longo alcance foram lançados pelas aeronaves atacantes.
Sobre os ataques do Irã contra Israel, abordei isso em detalhes aqui, tanto o primeiro ataque em 13 de abril de 2024 quanto o ataque de 01 de outubro de 2024.
A guerra contra o Hezbollah: Iniciando os preparativos
Em agosto de 2024, a luta contra o Hamas estava praticamente encerrada e que o Hamas, tendo perdido a maior parte de seus combatentes, era incapaz de oferecer resistência organizada. Fontes abertas haviam identificado três divisões das IDF que lidariam com Gaza, não ocupando toda a Faixa de Gaza, mas isolando-a do apoio externo e separando partes de Gaza umas das outras, ocupando corredores. As IDF conduziriam ataques aéreos ou incursões terrestres limitadas contra os combatentes do Hamas, até que a capacidade de combate do Hamas estivesse totalmente degradada.
As 162ª, 252ª e 143ª Divisões tinha sido, desde o início de setembro, as únicas formações operando contra o Hamas em Gaza. Como tanto a 252ª quanto a 143ª eram divisões de reserva, juntamente com uma brigada da 162ª divisão, isso significava que as unidades precisaram ser rotacionadas – formações de reserva não podem ser mobilizadas por mais de 60 dias por vez. Efetivamente, a IDF tinham um equivalente de divisão – uma força de combate de cerca de 10.000 combatentes lidando com Gaza. Estas foram suplementadas por três outras formações – uma unidade multidimensional especializada, especializada em combate urbano e partes da 900ª brigada e a 460ª brigada blindada (uma formação de treinamento).
Nesse mesmo período (agosto de 2024) a IDF tinha cinco divisões implantadas no Líbano e o equivalente a duas divisões em Gaza. Das quatro divisões no comando sul de Israel, três são divisões de reserva ou territoriais e, naqueles últimos 3 meses, apenas uma delas foi implantada ao longo de partes mais silenciosas do perímetro de Gaza (rodando com as outras duas divisões). O combate ativo estava sendo conduzido pela 162ª Divisão Blindada (duas de suas 4 brigadas são rotacionadas com as outras duas) juntamente com a brigada 900 (Kfir) retirada da 99ª Divisão do Comando Central. Outra formação regular do Comando Central – a 98ª Divisão Paraquedista – foi lutar no Líbano.
O objetivo de Israel era a implementação de fato da resolução 1701 da ONU de 2006, que significa a desmilitarização de parte do sul do Líbano, ao sul do rio Litani. Isso significaria que o Hezbollah perderia sua rede de túneis perto da fronteira com Israel e a ameaça a Israel diminuiria significativamente. Se o Hezbollah fizesse isso voluntariamente, significaria uma perda de face (para eles e seu patrocinador, o Irã) – embora isso também aconteceria se eles permanecerem onde estavam e não fizerem nada.
Entretanto, o blefe do Hezbollah foi amplamente descoberto. Muitos analistas – incluindo alguns respeitados como o Tenente-Coronel Scott Ritter ou o Coronel Douglas McGregor – especularam que, como o Hezbollah era muito mais poderoso do que em 2006 (quando paralisou Israel), Israel se sairia pior e estaria em sérios apuros se lutasse contra o Hezbollah e o Hamas ao mesmo tempo. Na realidade, o Hezbollah vinha apresentando um desempenho muito pior do que em 2006, mesmo antes dos eventos de setembro, quando o Mossad se redimiu, primeiro com a explosão de pagers e rádios, que feriram mais de 1.000 combatentes do Hezbollah, culminando na morte do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
Em 2006, a guerra de um mês com o Hezbollah custou às IDF 121 mortos. 44 civis morreram em ataques com foguetes. As IDF alegaram ter matado até 600 membros do Hezbollah (o Hezbollah admitiu 250). Supondo que a estimativa das FDI esteja correta, a taxa de perdas é de 1:5, na melhor das hipóteses. Embora o estoque de foguetes do Hezbollah seja um múltiplo do que era em 2006 e a sofisticação de mísseis e drones tenha aumentado, as contramedidas israelenses também melhoraram, como parece evidente pelas perdas muito menores (por mês ou por mil foguetes) em Israel. Ao contrário de 2006, o Hezbollah não pode repor seu estoque de foguetes, pois os suprimentos do Irã através da Síria estavam sendo interceptados pela IAF que bombardeava as linhas de comunicações terrestres. As IDF, por outro lado, acumularam estoques à medida que o conflito em Gaza se reduzia. O suprimento dos EUA provavelmente foi garantido.
As IDF mobilizaram contra o Hezbollah as mesmas 5 divisões que eu havia mencionado anteriormente que fariam parte da operação. São elas: a 36ª Divisão, a 98ª Divisão Paramilitar, a 91ª Divisão Territorial de Reserva e a 146ª Divisão de Reserva, com a 210ª Divisão de Reserva atuando como reserva. Além das 36ª e 98ª divisões, que estiveram envolvidas nos combates em Gaza desde o início, todas as brigadas das 91ª e 146ª divisões também passaram por Gaza em rodízio, o que proporcionou aos seus reservistas experiência de combate. Todas essas unidades também permaneceram estacionadas em seus setores da frente por algumas semanas, antes da ofensiva israelense, em comparação com 2006, quando os reservistas foram mobilizados às pressas e lançados no combate de forma mais fragmentada.
Operações terrestres no Líbano
O melhor resumo das operações do primeiro mês que consegui encontrar vem deste vídeo.
Alguns pontos que achei significativos:
As IDF avançaram no mesmo ritmo que o exército russo na Ucrânia em 2024. O ritmo de avanço russo é bastante ridicularizado, apesar de, ao contrário de Israel, os russos não possuírem superioridade aérea completa – a Ucrânia possui uma formidável defesa aérea fornecida pela OTAN. Ao contrário do Hezbollah, a Ucrânia possui capacidade ISR incomparável (a partir de uma rede de satélites), impossibilitando a ocultação de forças russas de qualquer tamanho significativo, além de possuir suas próprias forças mecanizadas e artilharia.
Desde o verão, a Rússia também estava sofrendo aproximadamente o mesmo número de baixas por brigada por mês que Israel (que é um exército com grande aversão a baixas). Isso desmente o mito das "ofensivas de carne humanas" russas ou da tomada de posições por meio de táticas de ondas humanas. As táticas russas eram semelhantes às do vídeo, com pequenos grupos de forças altamente móveis (veículos leves em vez de Carros de Combate) avançando após uma área ser enfraquecida por ataques aéreos e de artilharia de precisão.
A 162ª Divisão de Israel no Norte de Gaza (contra um inimigo enfraquecido após um ano de combates) sofreu mais baixas em outubro do que qualquer uma das cinco divisões das IDF operando contra o Hezbollah no Líbano.
Estimava-se, antes da ofensiva terrestre, que o Hezbollah possuía um estoque de 100.000 foguetes e drones, que poderiam ser disparados a uma taxa de 1.500 por dia caso Israel iniciasse uma ofensiva terrestre. A taxa real foi inferior a 150 foguetes por dia, corroborando a estimativa israelense de que 75% dos estoques do Hezbollah foram destruídos em ataques aéreos ou esgotados no ano anterior. Na guerra de 2006, o Hezbollah disparou uma média de 120 foguetes por dia contra Israel.
Em 2006, a Força Aérea Israelense (IAF) realizou 11.600 surtidas de caça em 34 dias. Na operação contra o Hezbollah em 2024, entre 16 de setembro e 24 de outubro, a IAF realizou 3.250 surtidas de caça. A redução de 340 surtidas por dia em 2006 para 83 por dia atualmente é provavelmente resultado de uma segmentação mais precisa (a letalidade da munição lançada não foi muito diferente de 2006). A taxa de surtidas reduzida implica que a IAF pode sustentar as operações por mais tempo.
Esconderijos de mísseis anticarro avançados foram recuperados de posições de onde o Hezbollah recuou. Relatos indicam que até 2.500 ATGMs e RPGs foram recuperados. Isso sugere que os combatentes do Hezbollah não lutaram até o fim (até o último míssil) ou não realizaram uma retirada ordenada para a próxima posição, com suas armas mais valiosas. Faço isso para contrariar a visão de que o Hezbollah, homem por homem, é um adversário mais formidável do que o Hamas.
Um ponto levantado no vídeo é que há evidências visuais de apenas 1 tanque CC sendo destruído, contra a alegação do Hezbollah de ter destruído 34 unidades. Desde o início da ofensiva terrestre israelense, as IDF perderam 5 homens de uma formação blindada (8ª Brigada Blindada). Todos foram mortos quando atingidos por um foguete fora de seus CC. Eles também perderam 5 homens da 188ª Brigada Blindada, em acidentes e ataques a CC antes de 24 de setembro. Mesmo que não seja possível comparar as mortes de homens no corpo blindado com a perda de CC, uma proporção de 1 morto para 1 CC destruído (com base em proporções históricas) seria apropriada.
Antes da estimativa terrestre, com base na própria estimativa de baixas do Hezbollah, a proporção de mortos das IDF para o Hezbollah era de 1:26, em comparação com 1:6 na guerra de 2006. O Hezbollah parou de publicar números de baixas, mas as estimativas das IDF são de 1.500 membros do Hezbollah e 340 milícias sírias e xiitas mortos contra 62 mortos das IDF no Líbano desde 23 de outubro. Considerando apenas os homens do Hezbollah mortos no Líbano, a taxa de perdas seria de 1:24, o que é consistente com as perdas antes da ofensiva terrestre. Há também estimativas de 2000 mortos do Hezbollah, considerei a menor das duas estimativas, na ausência de uma confirmação do Hezbollah.
O lento progresso no segundo mês – particularmente quando havia a expectativa de que Israel tentasse alcançar o rio Litani – justifica o ponto que levantei anteriormente. O objetivo das IDF era, portanto, semelhante ao da Rússia na Ucrânia, uma batalha de atrito, onde destruir o inimigo era mais importante do que ganhar território e um avanço só era feito quando a taxa de baixas era esmagadoramente a seu favor, ou o inimigo estava ausente.
Embora as IDF tenham declarado a morte de 3.500 membros do Hezbollah, o Hezbollah parou de publicar números de baixas após o início dos combates terrestres. Antes de 1º de outubro, eles haviam admitido uma perda de cerca de 520 homens. O governo do Líbano declarou perdas de 4.000 pessoas no total, sem distinguir entre o Hezbollah e civis. É improvável que isso inclua combatentes do Hezbollah que não sejam do Líbano ou aqueles cujos corpos não foram recuperados. Pouco mais de 1.000 dos mortos identificados são mulheres e crianças. É razoável supor que o número de civis do sexo masculino não exceda o total combinado de mulheres e crianças, o que deixaria uma estimativa de 2.000 mortos do Hezbollah, como uma estimativa mais baixa. Isso significaria uma proporção de 25:1 de mortos do Hezbollah para as IDF, o que foi o caso no ano de combates anterior a 24 de outubro. Em comparação com um potencial de 1.500 foguetes por dia que se acreditava que o Hezbollah dispararia contra Israel durante uma guerra terrestre, a média em dois meses ficou abaixo de 100, com eficiência reduzida, o que justifica a alegação de que 80% do arsenal de foguetes do Hezbollah foi destruído.
O lado que parece mais disposto a aceitar um cessar-fogo é geralmente considerado como tendo se saído pior. Em 2006, foi Israel; desta vez, foi o Hezbollah. Além da eliminação da maior parte da liderança do Hezbollah e da destruição de grande parte de seus estoques de armas, além de uma taxa de baixas insustentável, seus suprimentos do Irã estavam sendo interditados, e o Irã parecia menos interessado em continuar fornecendo, especialmente diante da possibilidade de um governo Trump tomar medidas mais duras contra o Irã.
Mais um elo do EdR foi comprometido e eliminado como ameaça para Israel.
Consequência não intencional para a Síria
A guerra civil síria eclodiu três dias após o cessar-fogo (30 de novembro) com o Hezbollah. Rebeldes apoiados pela Turquia quebraram o cessar-fogo e fizeram um rápido avanço contra o exército árabe sírio SAA (o exército do regime de Assad) apoiado pelo Irã e pela Rússia. O SAA fugiu da cidade estratégica de Aleppo e áreas próximas. A única força amiga do regime de Assad que pôde ser rapidamente mobilizada foram os combatentes do Hezbollah que puderam, após o cessar-fogo, mover-se rapidamente para a Síria, ganhando tempo antes que outras milícias xiitas do Iraque e do Irã também se movessem para a Síria. O Hezbollah pode ter sido a única força impedindo a desintegração do regime de Assad e seu movimento para a Síria foi possível graças ao cessar-fogo.
Tudo sobre a queda de Assad foi abordado nesse artigo que eu escrevi, então pularemos para a próxima etapa.
O que fica claro é que mais um membro do EdR foi eliminado como ameaça para Israel. Os objetivos estratégicos de Israel foram sendo consolidados e ganhou um notável progresso com a queda de Assad e o ingresso de uma nova liderança que recomeçasse os laços com Israel e o Ocidente, isso representou um ganho significativo para interromper a ligação do Irã com o Hezbollah através da Síria. O corredor terrestre que ligava o Irã ao Líbano foi interrompido e Israel conseguiu isolar o grupo de Teerã, enfraquecendo por vez o Hezbollah.
O que se seguiu após a queda de Assad foi Israel iniciar uma campanha de bombardeio na Síria. Israel realizou extensos e abrangentes ataques contra toda a infraestrutura militar do SAA, principalmente a rede de defesa aérea soviética/russa que ainda detinha em serviço no país, isso foi notado particularmente em contas OSINT na plataforma X, além de terem atacado as bases navais e aéreas, realizando uma tentativa de desmilitarizar o novo regime e impedir que eles acessem armamentos avançados. Outra questão que Israel se concentrou foram nas armas químicas sírias, com a IAF realizando um amplo bombardeio em todas as instalações críticas de armas químicas do arsenal de Assad, isso garantiu a supremacia aérea de Israel sobre a Síria, mesmo em atrito com a TAF (Turquia), o novo patrocinador do novo regime sírio.
Mais um elo do EdR foi comprometido e eliminado como ameaça para Israel.
Houthis
Minha opinião é que os ataques Houthis, longe de interromper as cadeias de suprimentos ocidentais, mostraram que os mísseis e drones do Irã (fornecidos aos Houthis) eram ineficazes. Entre maio e agosto de 2024, dos 82 navios alvejados pelos Houthis, apenas um afundou. Em teoria, com os navios mercantes sendo virtualmente indefesos contra mísseis antinavio modernos, os mísseis deveriam ter sido mais eficazes. Entre 30 de agosto e 30 de outubro, os Houthis alegaram ter alvejado 10 navios. Apenas 4 deles foram realmente atingidos, nenhum seriamente e sem perda de vidas. Um exemplo típico foi o ataque ao petroleiro Olympic Spirit em 10 de outubro. Os Houthis alegaram que dispararam 10 mísseis contra ele. Um atingiu o navio e dois explodiram nas proximidades. O que os Houthis conseguiram, no entanto, foi que o porto israelense de Eliat teve que declarar falência (devido à falta de negócios), enquanto a perda para o Egito pela queda na receita do Canal de Suez foi de bilhões de dólares em 2023-24. Israel retaliou os houthis quando o grupo do EdR começou a atacar Israel, gerando grandes danos em portos e instalações militares do grupos iemenita, embora a participação desse grupo esteja longe de ser comparável ao Hezbollah, permitiu algum dano material e econômico para Israel e alguns países devido ao bloqueio do Mar Vermelho.
Fontes:
https://www.usni.org/magazines/proceedings/2025/june/iran-israel-conflict-quicklook-analysis-operation-rising-lion
https://velhogeneral.com.br/2025/06/18/do-planejamento-a-acao-a-operacao-rising-lion/
https://velhogeneral.com.br/2025/06/18/israel-e-ira-analise-da-crise-geopolitica-e-cenarios-futuros/
https://www.aereo.jor.br/2024/10/06/a-forca-de-defesa-aerea-da-republica-islamica-do-ira/
https://www.gov.il/en/pages/operation-rising-lion-update
https://forcaaerea.com.br/operacao-leao-ascendente-israel-fez-uma-neurocirurgia-no-regime-islamico-do-ira/
https://www.dn.pt/internacional/opera%C3%A7%C3%A3o-rising-lion-uma-semana-de-ataques-de-israel-e-de-contra-ataques-do-ir%C3%A3o
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